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Parcerias devem dominar o mercado de carros autônomos no futuro

Empresas de tecnologia podem desenvolver o ‘cérebro’ dos veículos, enquanto as montadoras têm a capacidade de criar a parte mecânica

23/07/2017 | 05h00

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 Por Bruno Capelas - O Estado de S. Paulo

Sem rumo. Google 'desistiu' de construir seu próprio carro

Gordon de Los Santos/Google

Sem rumo. Google 'desistiu' de construir seu próprio carro

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O simpático carro sem motorista da foto acima, totalmente projetado e construído pelo Google, representa um futuro que o mundo não vai ver. “Construir um carro é difícil e muito caro. Construir um carro autônomo, confiável, confortável e seguro, é praticamente impossível”, diz Bryant Walker Smith, pesquisador do Centro de Internet e Sociedade da Universidade de Stanford. Isso não significa que os veículos sem motorista não chegarão ao mercado, mas eles serão radicalmente diferentes do que se pensava há alguns anos.

Empresas como a Waymo, do Google, e a Apple deixaram de lado os planos de criar um carro do zero. Nos últimos meses, as duas companhias decidiram focar em construir sistemas que serão o “cérebro” dos veículos autônomos. “Elas são empresas de software, acostumadas a ter margens de lucro altas, e não querem gastar com fábricas”, diz Michael Ramsay, diretor de pesquisa do Gartner.

Áreas como análise de dados, monitoramento de sensores ou conectividade, por exemplo, estão no foco das empresas de tecnologia, por terem grande potencial de crescimento nos próximos anos. O mesmo não é possível dizer da parte mecânica dos carros, que continua similar há décadas – e coloca em xeque o futuro das montadoras.

Para o professor da Universidade de São Paulo em São Carlos Fernando Osório, a indústria automotiva está fazendo parcerias com as empresas de tecnologia, mas, ao mesmo tempo, está desenvolvendo softwares próprios – uma estratégia para escapar da dependência. A seu favor, elas têm o domínio da fabricação dos carros, seara que as gigantes de tecnologia desistiram de explorar.

Segundo o Gartner, são mais de 45 projetos de carros autônomos em andamento atualmente no mundo. A maioria deles compreende a colaboração entre empresas de tecnologia e montadoras, mas os modelos de colaboração ainda estão sendo definidos.

Há quem aposte que vão prevalecer os acordos fechados – nos quais uma montadora só usará a plataforma de uma empresa de tecnologia. Outro modelo possível é o aberto, em que um sistema de direção autônoma será licenciado por inúmeras fabricantes, como o Google faz com o Android em smartphones. “Espero ver parcerias fechadas no curto prazo, porque isso facilita o desenvolvimento rápido da tecnologia”, diz Walker. “No longo prazo, porém, o modelo aberto pode ser mais interessante.”

Apple, Google e outras 12 empresas que investem em carros sem motorista

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Mercedes-Benz e Bosch

Foto: Steve Marcus/Reuters

A fornecedora de peças para automóveis Robert Bosch e a Daimler — que controla a Mercedes-Benz — se uniram para desenvolver um carro autônomo. As duas empresas anunciaram que pretendem colocar o veículo no mercado dentro de cinco anos. A Bosch será responsável por desenvolver o software e os algoritmos, enquanto a Mercedes fabricará os veículos. Em janeiro de 2017, a Daimler firmou um acordo com o Uber para fornecer seus veículos autônomos para a frota da empresa de transporte.

BMW, Intel e Mobileye

Foto: BMW/NYT

A montadora alemã BMW espera colocar 40 carros autônomos na rua no segundo semestre de 2017. Os testes só se tornaram possíveis após a aliança entre a empresa alemã com a Intel e a Mobileye — startup israelense que foi comprada pela Intel por US$ 15,3 bilhões.

GM e Lyft

Foto: Rebecca Cook/Reuters

A montadora americana General Motors, para não ficar para trás no mercado automobilístico, começou a investir em tecnologia. Em 2016, fez uma parceria com a Lyft — concorrente do Uber — e colocou cerca de US$ 500 milhões na startup. Com planos para disponibilizar seu modelo no mercado até 2020, a GM planeja começar seus testes nas ruas ainda em 2017, com uma frota de táxis elétricos composta por Chevrolet Bolt.

Uber

Foto: Aaron Josefczyk/Reuters

Desde setembro de 2016, o aplicativo de transporte Uber começou disponibilizar seus carros autônomos para clientes da startup em cidades na Pensilvânia e no Arizona. As viagens são de graça e sempre há um engenheiro no veículo. Em março de 2017, os testes foram temporariamente suspensos após uma colisão envolvendo um veículo da companhia, mas já voltaram a ser realizados. Em agosto de 2016, a empresa anunciou uma parceria com a Volvo. As duas companhias investiram cerca de U$ 300 milhões no projeto.

Google

Foto: Jason Henry/The New York Times

O projeto de carro sem motorista do Google começou em 2009. No início, o desafio para a companhia era conseguir dirigir ininterruptamente por mais de 150 quilômetros no Toyota Prius. Já em 2014, a empresa desenvolveu um protótipo próprio, sem direção ou pedais. Em 2015, sua tecnologia foi a primeira a rodar um veículo autônomo nas ruas No final de 2016, seus carros já haviam percorrido mais de 3 milhões de quilômetros. O Google também divulgou que espera estar com seu protótipo finalizado por volta de 2020.

nuTonomy

Foto: Edgar Su/Reuters

A nuTonomy é uma startup de tecnologia fundada em Cambridge, em 2013, por dois pesquisadores de robótica do MIT. Especializada no desenvolvimento de softwares, sensores e câmeras para carros autônomos, a empresa começou a testar seu protótipo em Cingapura em agosto de 2016. A companhia, menor que todas as montadoras com as quais concorre, foi a primeira a testar seus veículos em Boston, em janeiro de 2017. Otimistas com os resultados, os desenvolvedores esperam ter a tecnologia completamente desenvolvida até 2019.

Tesla

Foto: Gary Cameron/Reuters

A Tesla, empresa de Elon Musk, é uma das companhias mais avançadas nesse setor. Em novembro de 2016, ela anunciou que todos os carros produzidos a partir do final de 2017 serão equipados com a tecnologia. No entanto, na fase inicial, a condução 100% autônoma não será permitida, pois a empresa ainda precisará testar o software. Hoje, a companhia já vende carros semi autônomos — capazes de dirigir em estradas e rodovias sozinhos. Em 2016, um carro da Tesla conseguiu parar antes da batida. Outro veículo da marca se envolveu em um acidente com vítima fatal.

Ford

Foto: Ford/Divulgação

A Ford planeja lançar um carro totalmente autônomo até 2021, inclusive sem volantes e pedais. A empresa norte-americana espera começar a comercializar os veículos nas concessionárias até 2025. Para isso, a empresa fez vários investimentos. Os seus sensores LIDAR, por exemplo, permitem que os carros usem somente dois sensores, em vez dos quatro do projeto original. Isso só foi possível graças aos investimentos de US$ 150 milhões da empresa na Velodyne, em parceria com a chinesa Baidu. Hoje, os veículos já são testados nas ruas de cidades dos Estados Unidos, mas sempre com um motorista presente.

Renault-Nissan

Foto: Noah Berger/Reuters

As montadoras Renault e a Nissan se uniram para a criação de uma divisão conjunta de 300 pessoas para desenvolver veículos autônomos. As empresas estão buscando desenvolver o software, computação em nuvem e análise de dados para os carros conectados. Em janeiro de 2017, na CES de Las Vegas, elas anunciaram que a Nissan irá acrescentar funções semi autônomas no seu carro elétrico Leaf, permitindo que ele ande sozinho em estradas. A empresa japonesa também anunciou uma plataforma que permitirá um controle remoto de carros.

Volkswagen

Foto: Arnd Wiegmann/Reuters

No Salão de Genebra, o Grupo Volkswagen apresentou em março de 2017 o Sedric, o primeiro veículo totalmente autônomo do grupo. Ainda sem data de lançamento no mercado, o carro funciona com controle remoto em formato de botão, por meio do qual o usuário pode chamar o carro. Quando ele chega, as portas se abrem e o veículo parte assim que um comando de voz informa o destino. Com motor elétrico e capacidade para até quatro pessoas, o protótipo poderá aprimorar tecnologias que deverão ser usadas por todas as outras empresas da Volkswagen, como a Audi, Porsche, Skoda e Seat. O desenvolvimento do projeto foi feito em conjunto com engenheiros de várias marcas do grupo.

Toyota

Foto: Rick Wilking/Reuters

A fabricante de carros japonesa Toyota investiu US$ 1 bilhão em robótica e em um centro de pesquisas em inteligência artificial em 2017. A empresa fez parcerias com a Microsoft para poder usar suas patentes sobre projetos de veículos conectados.  Na CES 2017, a fabricante apresentou seu protótipo, o Concept-i, um veículo inteligente e conectado com direção autônoma. No entanto, o motorista pode escolher se quer direção autônoma ou manual. 

Hyundai

Foto: Arnd Wiegmann/Reuters

A Hyundai também apresentou seu modelo de carro autônomo na CES de 2017. Na feira, seu veículo Ioniq foi testado, mas apresentou defeitos, como ficar atrás de um caminhão parado em vez de dar seta e trocar de faixa. A fabricante sul-coreana disse estar aperfeiçoando seu software, mas ainda não deu previsão de lançamento. Segundo a companhia, seu objetivo é disponibilizar carros conduzidos sem motoristas a preços acessíveis.

Honda

Foto: Amd Wiegmann/Reuters

A Honda investiu US$ 750 milhões na companhia de transporte coletivo Grab, mas também tem produzido veículos próprios. Em 2017, a empresa apresentou um carro com conceito inovador, chamado de NeuV. Ele pode ser programado para buscar e levar passageiros quando seu dono não o estiver usando. Como é elétrico, ele possui um sistema que monitora os preços da eletricidade, se encarregando de recarregar a bateria automaticamente quando o "combustível" estiver mais barato. Além de tudo, o veículo está equipado com um assistente pessoal.

Baidu

Foto: Jason Lee/Reuters

A gigante de buscas chinesa Baidu deve iniciar os testes de seus carros autônomos ainda em julho de 2017. A companhia também informou que quer introduzir a tecnologia em estradas e rodovias, de maneira gradual, até 2020. Chamado de Apollo, em referência ao programa espacial, o programa de desenvolvimento vai trabalhar com parceiros que fornecem automóveis, sensores e outros componentes para a tecnologia.

Apple

Foto: Yuya Shino/Reuters

Em 2017, a Apple recebeu licença do governo da Califórnia, nos Estados Unidos, para testar veículos autônomos. A empresa, no entanto, ainda não divulgou se está trabalhando em softwares ou em veículos próprios. Quando questionada por um usuário, a companhia norte-americana declarou que “está investindo pesadamente no estudo da aprendizagem de máquinas e automação, e está entusiasmada com o potencial de sistemas automatizados em muitas áreas, incluindo o de transporte".

Revisão. A chegada dos carros autônomos nas estradas, de forma comercial, está prevista para começar em 2020 em países desenvolvidos. Quando eles chegarem às ruas, apostam os analistas, haverá outra mudança de comportamento: a vasta maioria das pessoas deixará de ter carros, e começará a pagar por viagens, em um movimento antecipado por aplicativos de transporte como Uber e 99.

“Ter um carro é algo cada vez menos prático nos grandes centros urbanos, e só vai piorar”, diz Ramsey. Até lá, as montadoras vão precisar rever seus modelos de negócios – numa janela em que há muita pressão, mas também oportunidades.

No futuro, é possível que essas empresas passem a administrar frotas de carros autônomos, fazendo parcerias com aplicativos para vender viagens. É dessa forma que a startup Moovit, conhecida por seu aplicativo homônimo, pretende ganhar dinheiro no futuro (ler mais abaixo). “É hora das empresas pensarem em si mesmas como fornecedoras de serviços”, diz Walker. Não à toa, a GM investiu US$ 500 milhões em janeiro de 2016 no Lyft, principal rival do Uber nos EUA.

Para Mauro Correia, presidente da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), as montadoras vão liderar a fabricação do carro sem motorista, unindo os diferentes sistemas feitos pelas empresas de tecnologia, como fazem hoje ao integrar autopeças nos carros tradicionais.

“Hoje, a montadora usa o motor de um fornecedor, o freio de outro. No futuro, isso vai acontecer com o sistema de direção, de segurança, de entretenimento”, diz Correia.

Estrada à frente. Entre as montadoras e as gigantes da tecnologia, porém, governos e startups também podem ajudar o setor a avançar. “Cada país precisa entender qual é o papel que suas indústrias vão desempenhar nesse setor”, diz Walker. “Israel, por exemplo, percebeu que pode ganhar dinheiro.”

A principal prova disso é a Mobileye, startup de Jerusalém que desenvolve sensores de colisão e detecção de espaço de carros autônomos: em fevereiro, a empresa foi adquirida por US$ 15,3 bilhões pela fabricante americana de chips Intel. Mas há mais que isso: em visita recente a Israel, a reportagem do Estado constatou que há diversas startups criando sistemas para proteger os carros sem motorista de ciberataques.

É o caso da Argus, criada em 2013 e que tem uma aliança com a Mercedes-Benz. “Precisamos convencer a todos que a segurança é um problema”, diz Monique Lance, diretora de marketing da startup. “Pode acontecer um WannaCry dos carros no futuro”, diz ela, fazendo referência ao ciberataque que infectou 300 mil computadores no mundo em maio.

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