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Realidade aumentada começa a transformar o mundo do trabalho

Popularizada por Pokémon Go em 2016, tecnologia que aplica camada virtual sobre o mundo real está sendo usada para modernizar treinamentos e manutenção; ainda em desenvolvimento e pouco acessível, sistema deve ficar longe de consumidores

Por Bruno Capelas
Atualização:
Com óculos, engenheiro 'enxerga' especificações dos elevadores na manutenção Foto: Divulgação

Adicionar uma camada de informações virtuais ao mundo real, com ajuda de uma tela ou lente. Essa é a ideia por trás da realidade aumentada, tecnologia que foi apresentada ao mundo em 2016 por um dos grandes sucessos dos games na temporada: Pokémon Go. Com mais de 500 milhões de downloads, o jogo que fez todo mundo caçar monstrinhos na tela do celular é uma amostra do potencial da realidade aumentada, que pode mudar radicalmente o mundo do trabalho no futuro. 

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De acordo com um relatório da consultoria Markets & Markets, o mercado global de realidade aumentada poderá movimentar US$ 117,4 bilhões em 2022. Menos otimista, um estudo divulgado pelo banco Goldman Sachs no início de 2016 aposta que as tecnologias de realidade aumentada em conjunto com a realidade virtual valerão US$ 80 bilhões até 2025. “Pokémon Go fez as pessoas se acostumarem a ver informações na tela de um jeito diferente, mas era rudimentar. O jogo não interagia com o mundo real”, avalia Tuong Nguyen, analista de pesquisas da consultoria Gartner. 

Ao contrário de sua “prima” realidade virtual, que aposta na imersão para entreter os usuários com jogos e experiências audiovisuais, a realidade aumentada deve ter sua principal aplicação na área corporativa. Isso porque os dispositivos com alto poder de processamento para suportar a realidade aumentada ainda estão em fase de desenvolvimento e/ou são bastante caros: o Hololens, óculos revelados pela Microsoft em janeiro de 2015, são hoje vendidos nos EUA e em outros sete países em uma versão para desenvolvedores por US$ 3 mil – ainda não há previsão para venda no Brasil. 

“É um dispositivo caro para os consumidores – mesmo para quem for empolgado com tecnologia e quiser jogar Minecraft numa mesa”, avalia Nguyen, da Gartner. A própria Microsoft reconhece que, no primeiro momento, o dispositivo será mais acessível para o uso corporativo. “É um notebook colocado em um óculos na cabeça do usuário. Até chegarmos em uma economia de escala, sabemos que os primeiros beneficiários serão as empresas”, diz Richard Chaves, diretor de inovação da Microsoft Brasil.

Para Nguyen, a realidade aumentada deve mudar radicalmente três áreas importantes: design, educação e treinamento, além de serviços de manutenção e inspeção. “Pense que você é um técnico que precisa ir a campo. Todas as informações do seu manual poderão estar nos óculos. Caso você erre algo, poderá transmitir um vídeo para seu chefe – e ele poderá te ajudar ou assistir depois”, diz o analista da Gartner. 

A Microsoft não trabalha com estimativas de quantos exemplares do Hololens pretende vender, mas o potencial é alto: segundo dados da consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC), existem 110 milhões de trabalhadores “sem mesa” em todo o mundo, que poderiam ser mais produtivos usando óculos de realidade aumentada.

E esse é um mercado que não deve ficar só com a Microsoft: outras gigantes já demonstraram interesse no setor. A sul-coreana Samsung diz trabalhar em um dispositivo próprio, enquanto o Google aposta na MagicLeap, startup da Flórida cujos primeiros testes impressionam – com direito a baleias no meio de um auditório. Para Nguyen, da Gartner, o cenário não ficará restrito apenas às grandes empresas. “Ainda há muita inovação a ser feita”, diz o analista. “Como pouca gente está usando esses aparelhos, as pessoas ainda não estão influenciadas por marcas.”

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Tempo precioso. Mesmo sem ter uma versão “final”, o Hololens já está sendo utilizado por diversas empresas para melhorar atividades cotidianas. “Temos diversas empresas trazendo aparelhos para o País, importando direto dos Estados Unidos”, diz Chaves. 

Um dos casos mais emblemáticos é o da empresa alemã de elevadores ThyssenKrupp: em 2016, a empresa passou a usar o Hololens na manutenção dos elevadores do One World Trade Center, em Nova York. Para isso, o MAX – sistema para coletar dados sobre o funcionamento dos elevadores – disponibiliza os dados para o técnico na hora da manutenção.

“Quando está no lugar, o técnico pode usar os óculos para consultar esses dados e levantar hipóteses das causas do defeito”, explica Reinaldo Paixão, diretor de engenharia da ThyssenKrupp no Brasil. “Se não for suficiente, ele pode falar com um engenheiro fora do campo, por vídeo.”

De acordo com o executivo, o uso do Hololens pode reduzir o tempo do técnico em campo – permitindo que um mesmo profissional faça diversas visitas no mesmo dia. A meta da alemã é cortar pela metade o tempo das visitas de técnicos. 

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A Autodesk – responsável por softwares de design e arquitetura como o AutoCad – aposta em aplicações mais próximas da vida real. Segundo Raul Arozi, especialista em manufatura da Autodesk, o uso dos óculos pode ajudar em obras, tanto para evitar acidentes, como furar um cano oculto na parede, como para demonstrar uma planta. 

“Hoje, o arquiteto faz o projeto no AutoCad e depois constrói uma maquete, caríssima e demorada. Com o Hololens, basta apenas projetar como vai ser o imóvel na tela dos óculos”, explica Arozi. “Basta um clique para que a pessoa possa trocar a cor na parede ou mudar a posição do sofá no projeto.” 

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