Sobre a polêmica em torno da regulação das startups

Leia a carta aberta de Pedro Conrade, presidente executivo da Controly, sobre sua declaração durante o debate sobre fintechs no evento de lançamento do 'Link'

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Por Pedro Conrade
Atualização:
  Foto: Felipe Rau|Estadão

“A regulação das startups é boa, pois evita a entrada de aventureiros nesse setor”. Essa polêmica frase foi dita por mim enquanto falava sobre minhas impressões acerca da relação entre mercado financeiro, regulação e “fintechs” em 9 de maio, durante o evento de lançamento do novo site do Link. Por ter sido tuitada fora de contexto, logo causou uma grande polêmica nas redes sociais. Ao se olhar estritamente à frase (como maior parte da internet fez), parece que sou um defensor do “fetiche da regulação”, como se fosse necessário um órgão estatal para conter empresas de tecnologia que querem inovar ou propor novos modelos, a fim de impedir “aventureiros” de revolucionar mercados. No entanto, pela proporção que ganhou, cabe aqui uma contextualização da fala.

(Nota da editora: O jornalista que fazia a cobertura em tempo real do evento de lançamento do Link no Twitter informou, nos tuítes seguintes, que a declaração se relacionava às startups do setor financeiro e não ao ecossistema das startups em geral, como é possível conferir na sequência de tuítes reproduzida abaixo.)

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Apesar de muito jovem, sou empreendedor já há 7 anos. Já tive algumas empresas e sempre fui (e serei) um desses “aventureiros”, pois creio fielmente que são os empreendedores que movem o mundo. Atualmente, sou presidente executivo da Controly, uma fintech que oferece uma solução alternativa à conta-corrente dos grandes bancos. Apesar de uma empresa recente, já desbravamos muito o mercado de cartões pré-pagos e conseguimos firmar nossa marca.

A frase – que parece incoerente à minha atuação – foi uma resposta a uma pergunta sobre o histórico de fintechs. Algumas delas, por motivos de má administração ou fraudes, fecharam as portas, fazendo com que seus clientes perdessem dinheiro, ocasionando prisões e processos. Outros, simplesmente pela fragilidade de regulação da época, fraudaram e lesionaram milhares de clientes.

Quando me posiciono de forma favorável à regulação de startups do mercado financeiro, me restrinjo unicamente a este setor específico. A publicação dessa frase separadamente fez parecer que é minha opinião que Uber, Netflix, WhatsApp ou qualquer outra empresa inovadora precise de regulação própria a fim de proteger os mercados existentes. Reitero: muito pelo contrário! Acredito que, na esmagadora maioria das vezes, regular inadvertidamente pode matar inovações fantásticas. No entanto, o setor financeiro conta com particularidades que tornam necessário um arcabouço jurídico que proteja os clientes.

O que quis dizer é que uma regulação mínima, que responsabilize e impeça tanto fraudadores quanto empreendedores descompromissados com seus clientes e com o mercado é mais que bem-vindo, é fundamental. Quanto mais incerto é o mercado em questão, maior o risco. Quanto maior o risco, menos investimento e mais caros serão seus serviços ou produtos. 

O que o mercado financeiro precisa hoje é, justamente, de maior competitividade para que se ofereçam produtos mais acessíveis e lucrativos ao clientes. Sem o estabelecimento de regras flexíveis e mínimas (friso novamente, flexíveis e mínimas), um ecossistema que evolui incomparavelmente mais rápido que a regulação, pode gerar riscos sistêmicos se não houver boas práticas pré-estabelecidas. Isso, dá segurança jurídica para que soluções como o próprio Controly, quanto empresas como PayPal ou o Nubank (primeiro grande caso brasileiro de fintech), consigam ousar mais, atrair mais investimentos e atingir seu principal objetivo: oferecer um serviço de excelência para seus clientes. Apesar de inovadoras, essas empresas tem sua atuação regulada pelo Banco Central, o que garante que elas não irão, simplesmente do nada, sumir com o dinheiro de milhões de pessoas.

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Apesar da retificação do jornalista, muitos criticaram a minha fala acreditando que eu queria protejer meu mercado. Tenho apenas 24 anos, estou à frente de uma empresa de 30 funcionários (todos com menos de 36 anos de idade) e que ainda está em seu começo. Não queremos, de forma alguma, restringir o mercado. Pelo contrário! Adoramos concorrência, pois ela faz o ecossistema amadurecer.

Somos aventureiros? Sim. Temos o sonho de montar um banco de jovens para jovens, sem aqueles mesmos figurões de sempre. Mas isso não quer dizer que tenhamos que jogar para o alto a responsabilidade para com nossos clientes por acreditarmos no nosso produto. Aventurar-se, antes de mais nada, é saber por quais mares é melhor navegar, não apenas se jogar às cegas ignorando aqueles que ousam vir junto.

*Pedro Conrade é presidente executivo da startup Controly e foi um dos convidados a participar do debate sobre o panorama e perspectivas do mercado de fintechs promovido pelo 'Link' para marcar o lançamento da nova versão do site.

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