SoftBank também investe em fundos de capital de risco na América Latina

A indústria de capital de risco ainda é pequena na América Latina, com investimentos totais de apenas US$ 2 bilhões no ano passado

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Por Agências
Atualização:

O SoftBank, cujo fundo de US$ 5 bilhões para a América Latina está trazendo um volume inédito de recursos para as startups da região, também está cortejando fundos de capital de risco locais, um movimento pouco comum para o investidor japonês que está revolucionando a cena de tecnologia na região.

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A maneira mais comum de investir do SoftBank no mundo todo é colocar dinheiro diretamente nas startups, mas na América Latina ele reservou parte dos recursos para investir em fundos de capital de risco. 

A indústria de capital de risco é relativamente incipiente na América Latina, e os investimentos do Softbank nos fundos ajudariam a estimular a inovação, particularmente no desenvolvimento de startups maiores, que são o principal alvo do Softbank.

Na primeira metade de 2019, os investimentos de capital de risco na América Latinachegaram a US$ 2,6 bilhões Foto: Toshiyuki Aizawa/Reuters

Mas executivos da indústria dizem que os recursos do Softbank aplicados em capital de risco são atrelados a exigências que vários fundos consideram desfavoráveis.

Fontes com conhecimento do assunto dizem que uma das condições impostas pelo Softbank é um direito de preferência para investir em empresas do portfolio dos fundos que decidam, num estágio posterior, levantar mais recursos ou que sejam colocadas à venda.

Isso poderia colocar o Softbank em vantagem como um potencial investidor líder em rodadas de financiamento futuras e também poderia dar ao conglomerado japonês vantagens em relação a outros investidores do mesmo fundo, segundo as fontes.

As fontes afirmam que o desejo do Softbank de obter vantagens pode provocar conflitos de interesse em relação a outros investidores, que também gostariam de ter o direito de co-investir com o fundo. Dois fundos brasileiros de capital de risco rejeitaram as condições propostas pelo Softbank, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.

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O SoftBank também pede aos fundos que aceitem uma cláusula de não-competição por investimentos em startups menores e dêem prioridade ao conglomerado japonês nessas companhias, segundo uma das fontes.

A indústria de capital de risco ainda é pequena na América Latina, com investimentos totais de apenas US$ 2 bilhões no ano passado, embora este valor signifique o quádruplo do investido em 2016.

No Brasil, a maior economia da América Latina, a indústria de capital de risco representa apenas 0,04% do PIB, enquanto nos Estados Unidos chega a 0,43%, e na China, 0.33%, segundo um relatório da McKinsey & Company.

Na primeira metade de 2019, os investimentos de capital de risco na região chegaram a US$ 2,6 bilhões, mais que o triplo dos US$ 780 milhões do ano anterior, segundo dados da Association for Private Capital Investment in Latin America, conhecida como Lavca. Mais de um terço disso veio da aposta de US$ 1 bilhão do Softbank numa única empresa, o aplicativo colombiano de entregas Rappi.

O Softbank pretende investir cerca de US$ 500 milhões do capital do fundo de América Latina em outros fundos de capital de risco, mas não informou até agora dados exatos de investimento.

A agência de notícias Reuters publicou em setembro que o Softbank tinha fechado acordos de investimento com dois fundos, o brasileiro Valor Capital e o argentino Kaszek Ventures, que recentemente anunciou ter captado US$ 600 milhões de investidores. Não está claro se o Valor e o Kaszek aceitaram as condições demandadas pelo Softbank.

Representantes do Valor, Softbank e Kaszek preferiram não comentar o assunto.

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Avaliação

Não é incomum que investidores em capital de risco liderem rodadas sucessivas de financiamento em startups, e que a avaliação da empresa aumente a cada rodada de investimento.

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Mas uma das fontes disse que a melhor prática, tanto para investidores que atuam sozinhos como para fundos de capital de risco, seria permitir que investidores que ainda não estejam na empresa participem das rodadas e dêem seu aval para as avaliações das empresas.

A fracassada oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da WeWork, empresa de escritórios compartilhados na qual o Softbank investiu mais de US$ 10 bilhões, demonstrou como investidores externos discordaram da avaliação de US$ 47 bilhões atribuída ao WeWork na última rodada de investimento privado.

A professora da Universidade de Columbia Donna Hitscherich vê a demanda de investidores como o Softbank de liderar rodadas sucessivas de financiamento como “uma demanda natural de investidores que apostaram numa empresa desde o início e não querem ser diluídos à medida em que a empresa cresce”.

Na América Latina, o Softbank ainda não participou de rodadas sucessivas de financiamento, já que acabou de lançar seu fundo de investimento para a região.

A avaliação do aplicativo de entregas colombiano Rappi triplicou entre a rodada de financiamento liderada pelo fundo DST Global em setembro do ano passado e a de abril deste ano liderada pelo SoftBank.

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