Startup de patinetes Grow confirma compra por fundo latino Mountain Nazca

Transação havia sido antecipada pelo 'Estado' no final de semana; operação da empresa permanecerá ativa em três cidades do Brasil e outros cinco países da região

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Por Bruno Capelas
Atualização:

*Atualizado às 14h04 da quarta-feira, 11, para acrescentar posicionamento da Grow

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A startup de patinetes elétricos Grow confirmou, nesta terça-feira, 10, que seu controle acionário majoritário foi adquirido pelo fundo latino Mountain Nazca, dono de marcas como Peixe Urbano e Groupon na região. Criada em 2019 a partir de uma fusão entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin, a companhia de micromobilidade passava por uma fase difícil, com falta de capital e problemas de governança, tendo fechado operações em 14 cidades do País e feito demissões em janeiro. Com a aquisição, a empresa pretende continuar suas operações em três cidades do Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba), bem como em cinco países da América Latina. A transação havia sido antecipada pelo 'Estado' no último final de semana.

A negociação foi liderada por Felipe Henriquez Meyer, fundador da Mountain Nazca e presidente do conselho de administração do Peixe Urbano, que foi adquirido pelo fundo junto à chinesa Baidu no final de 2016 e se fundiu à operação latina do Groupon. Na nota, a Grow não comenta os valores da transação.  No sábado, 7,o Estado publicou que a empresa tinha sido vendida pelo valor simbólico de US$ 1 – segundo fontes, a Mountain Nazca assumiu as dívidas da Grow, na casa das dezenas de milhões de dólares. 

Em resposta à reportagem, a assessoria de imprensa da Grow informa que não tem "dívidas, mas sim pagamentos pendentes com fornecedores". A empresa reiterou ainda que os termos da negociação são confidenciais e que seu foco agora é "criar uma operação rentável para não depender de investimentos externos". 

Empresas se fundiram em 2019, mas tiveram trajetória cheia de tropeços e problemas internos Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Atual vice-presidente de mobilidade da empresa, Roberto Cadavieco foi promovido a presidente executivo global. "Nosso foco é oferecer a melhor experiência aos usuários e ter um modelo que seja rentável para a empresa, permitindo que a companhia cresça de forma sustentável", afirmou em nota. Antes de trabalhar na Grow, Cadavieco já tinha sido presidente executivo do Groupon no México. Na visão do empreendedor Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups, a Grow também pode reforçar a operação da Peixe Urbano. "O Peixe está investindo em ser uma carteira de pagamentos. O nome desse jogo é frequência: quantas vezes você abre um site para ver um desconto? E quantas vezes se locomove? Com a Grow, eles poderão ter uma base de usuários com meios de pagamento associados e recorrência no uso de serviços." 

Tropeços

Um dos maiores problemas das startups de patinetes elétricos no mundo todo, até aqui, foi encontrar um modelo de negócios rentável – o alto custo das viagens, afetado por roubos e dificuldades de manutenção, afastou muitos usuários em potencial. Em São Paulo, uma viagem de dez minutos de patinete custa cerca de R$ 8, o que coloca o modal em rivalidade com outros meios mais confortáveis, como corridas em automóveis particulares. 

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Manter o negócio rodando e se expandindo foi uma das principais dificuldades da Grow, que já surgiu, em 2019, com status de potencial unicórnio, em uma operação de fusão que envolveu US$ 150 milhões. Não era à toa: uma de suas partes, a Yellow, foi criada no 1º semestre de 2018 por Ariel Lambrecht e Renato Freitas, dois dos cofundadores do primeiro unicórnio brasileiro, a 99, junto do ex-presidente da Caloi, Eduardo Musa. Em seus primeiros aportes, realizados em 2018, a Yellow levantou US$ 72 milhões, uma quantia significativa para uma empresa tão jovem. 

Confundadores do primeiro unicórnio brasileiro, a 99, Renato Freitas e Ariel Lambrecht fundaram a Yellow em 2018 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Mas a promessa não se concretizou: com expansão desordenada, a empresa também não conseguiu captar recursos no mercado. Em abril de 2019, o Estado chegou a noticiar que a Grow negociava um aporte de US$ 150 milhões com o SoftBank – transação frustrada por divergências em números estratégicos. As disputas internas entre mexicanos e brasileiros também foram um problema e levaram à saída dos sócios da Yellow no dia a dia da Grow. 

Aluga-se

O Estado apurou ainda que a Grow segue fazendo demissões e deve desocupar em breve o prédio de seis andares que ocupa no bairro do Itaim Bibi, zona sul da capital paulista. Em visita ao local, a reportagem descobriu que apenas dois dos seis andares ainda estão ocupados. No café terceirizado, no andar térreo, os balconistas se queixaram de que o movimento caiu bastante nas últimas semanas. 

Sede da Grow, na zona sul de São Paulo: movimento reduzido Foto: Bruno Capelas/Estadão

Mas esta será uma situação temporária: o aluguel do espaço, que tinha multa de rescisão alta, será repassado no início de abril a outra startup brasileira, em fase de expansão. Segundo uma das fontes, o novo “inquilino” do espaço, localizado na rua Tabapuã, é um dos 11 unicórnios (empresa avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão). do País. Ainda não está claro para onde vão os atuais funcionários da Grow. Principal empresa do portfólio no Brasil da Mountain Nazca, a Peixe Urbano foi fundada no Rio de Janeiro e tem sede em Florianópolis, para onde a empresa se mudou no final de 2016, quando ainda pertencia à chinesa Baidu. 

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