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Startup de patinetes Grow deve ser vendida para dona do Peixe Urbano por US$ 1

Após fechar operação em 14 cidades, empresa de micromobilidade enfrentava problemas e teve redução de equipe; sede da companhia em São Paulo já está sendo desocupada

Por Bruno Capelas
Atualização:

A startup de patinetes elétricos Grow deve anunciar nesta segunda-feira, 9, sua aquisição pelo fundo de investimentos latino americano Mountain Nazca por US$ 1, revelaram fontes próximas ao assunto ao Estado. Criada em 2019 a partir de uma fusão entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin, a companhia de micromobilidade passava por uma fase difícil. Com problemas de governança e falta de capital, além de um modelo de negócios complicado, a empresa havia fechado operações em 14 cidades do País em janeiro. Agora, passa às mãos da companhia do fundo Mountain Nazca, que, entre outros negócios é dona do conglomerado Peixe Latam, que reúne as marcas de comércio eletrônico Groupon Latam e Peixe Urbano na região. 

Segundo as fontes, operação da Grow deve seguir em cidades como São Paulo Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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No meio da semana, a agência de notícias Reuters havia noticiado a negociação, mas indicava que a transação seria feita entre a Grow e a Peixe Latam – ao Estado, a assessoria da Peixe Latam negou qualquer conversa sobre o assunto. O acordo, segundo as fontes, foi fechado por chileno Felipe Henriquez Meyer, que é cofundador da Mountain Nazca e presidente do conselho do Peixe Urbano. O valor de US$ 1 é considerado simbólico, uma vez que a Mountain Nazca vai assumir dívidas da Grow, revelaram as fontes, que preferiram não se identificar. Procuradas pela reportagem, as assessorias de Grow e Mountain Nazca não estavam imediatamente disponíveis para comentar o assunto. 

Segundo uma das pessoas com conhecimento dos bastidores da transação, um dos impasses na negociação com outros interessados estava justamente nos passivos da startup de mobilidade. Em várias conversas que não foram para a frente, havia a imposição de que as dívidas da startup, na casa de dezenas de milhões de dólares, fossem quitadas pelos investidores da startup de mobilidade, como os fundos brasileiro Monashees e o chinês GGV. 

A expectativa, disseram as fontes, é de que a Mountain Nazca mantenha a operação de patinetes da Grow ativa nos mercados em que está presente – São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Segundo relatos, o interesse do fundo está tanto em aproveitar a base de dados dos usuários atraída pela Grow nos últimos dois anos, como de manter um negócio pequeno, mas que pode se tornar rentável. Uma corrida de dez minutos com um patinete pode custar cerca de R$ 8, o que fazia o serviço competir com soluções mais confortáveis, como o Uber. No entanto, em áreas como a região da avenida Faria Lima, em São Paulo, o aluguel de patinetes pode ter demanda e densidade o suficiente para se manter de pé, apontou uma das fontes. 

Tropeço

Manter o negócio rodando e se expandindo foi uma das principais dificuldades da Grow, que já surgiu, em 2019, com status de potencial unicórnio, em uma operação de fusão que envolveu US$ 150 milhões. Não era à toa: uma de suas partes, a Yellow, foi criada no 1º semestre de 2018 por Ariel Lambrecht e Renato Freitas, dois dos cofundadores do primeiro unicórnio brasileiro, a 99, junto do ex-presidente da Caloi, Eduardo Musa. Em seus primeiros aportes, realizados em 2018, a Yellow levantou US$ 72 milhões, uma quantia significativa para uma empresa tão jovem. 

Mas a promessa não se concretizou: com expansão desordenada, a empresa também não conseguiu captar recursos no mercado. Em abril de 2019, o Estado chegou a noticiar que a Grow negociava um aporte de US$ 150 milhões com o SoftBank – transação frustrada por divergências em números estratégicos. As disputas internas entre mexicanos e brasileiros também foram um problema e levaram à saída dos sócios da Yellow no dia a dia da Grow. 

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Confundadores do primeiro unicórnio brasileiro, a 99, Renato Freitas e Ariel Lambrecht fundaram a Yellow em 2018 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na época da reestruturação, em janeiro, apenas Lambrecht permanecia no quadro societário da Grow, enquanto Freitas e Musa já não tinham mais participação na empresa. Após a saída de Lambrecht do cotidiano da Grow, em agosto de 2019, houve ainda, nos dois meses seguintes, uma debandada de funcionários e executivos brasileiros da empresa – a vasta maioria deles, provenientes da Yellow.

Aluga-se

O Estado apurou ainda que a Grow segue fazendo demissões e deve desocupar em breve o prédio de seis andares que ocupa no bairro do Itaim Bibi, zona sul da capital paulista. Em visita ao local, a reportagem descobriu que apenas dois dos seis andares ainda estão ocupados. No café terceirizado, no andar térreo, os balconistas se queixaram de que o movimento caiu bastante nas últimas semanas. 

Sede da Grow, na zona sul de São Paulo: movimento reduzido Foto: Bruno Capelas/Estadão

Mas esta será uma situação temporária: o aluguel do espaço, que tinha multa de rescisão alta, será repassado no início de abril a outra startup brasileira, em fase de expansão. Segundo uma das fontes, o novo “inquilino” do espaço, localizado na rua Tabapuã, é um dos 11 unicórnios (empresa avaliada em pelo menos US$ 1 bilhão). do País. Ainda não está claro para onde vão os atuais funcionários da Grow. Principal empresa do portfólio no Brasil da Mountain Nazca, a Peixe Urbano foi fundada no Rio de Janeiro e tem sede em Florianópolis, para onde a empresa se mudou no final de 2016, quando ainda pertencia à chinesa Baidu. 

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