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Startups de Campinas se unem para evoluir ecossistema

Conhecida pelo polo tecnológico, cidade pode ter em breve primeira startup de US$ 1 bilhão

Por Murilo Roncolato
Atualização:
 

*As reportagens sobre São Paulo e Campinas formam a quarta e última parte da série sobre as principais cenas de startups do Brasil

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CAMPINAS – Criar um ecossistema de startups não é fácil. São necessários elementos como um poder público que incentive, uma iniciativa privada corajosa, além de instituições de ensino que produzam novos talentos e uma comunidade unida.

“O que faz ecossistemas de novos negócios funcionarem são pessoas que de alguma forma, em algum momento, se encontram, mas sempre é preciso um catalisador. No caso de Campinas, é a Unicamp, sem dúvida”, diz Fabio Pagani, ex-aluno da universidade e antigo diretor nacional da Softex.

Hoje, à frente do órgão responsável pela implementação de tecnologia no município, é testemunha da responsabilidade direta e indireta da universidade para a criação desse ambiente. Foi nela que, num período de 10 anos (entre 2001 e 2011), surgiram a Agência Inova (que lança desafios anuais de geração de negócios a partir de patentes engavetadas da instituição), a Unicamp Ventures (união de 440 empresas de ex-alunos da Unicamp) e a incubadora Incamp.

No entorno desse conjunto de entidades estão reunidos aqueles que podem ser chamados de “empreendedores da primeira geração” de Campinas. Uma segunda leva surgiria como resultado do ambiente propiciado por eles, mas funcionando com modelos muito mais urgentes e flexíveis de criação de novos negócios.

Na ponta dessa nova onda, estavam empresas recém-criadas por estudantes, caso da I.Systems. Fundada em 2007 por um grupo de estudantes da Unicamp, a empresa se aliou a outras nove iniciantes e fundou a Associação Campinas Startups (ACS).

“A ideia era manter empreendedores unidos. Apesar de sermos de áreas diferentes, é tão difícil ser uma empresa no Brasil que é melhor se unir. Afinal, todos passam pelos mesmos problemas”, diz Igor Santiago, cofundador da I.Systems.

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A meta da associação é ver brotar dali uma startup com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. “Na região de Campinas, isso está perto de acontecer”, diz Wilson Campanholi, presidente da ACS. Para ele, já é possível observar uma maior integração entre os empreendedores locais, mas isso “pode ser melhorado”.

 

Para Igor Santiago, a existência da primeira geração, formada por “emprendedores experientes da década de 90 que hoje faturam alto”, foi fundamental para a cena atual. “Eles contribuem muito, fazendo mentoria principalmente. No meu caso, por exemplo, o mentor foi o Fabricio Bloisi, da Movile”, diz, se referindo à empresa campineira criada em 1998 por ex-alunos da Unicamp, dona dos aplicativos PlayKids, iFood e Apontador, destino de um investimento de US$ 55 milhões do grupo Naspers em 2014, e hoje talvez a maior inspiração dos empreendedores da cidade.

Depois do nascimento da ACS, hoje com 48 startups associadas, Campinas ganhou novas iniciativas, como o fundo de participações em startups IVP, a Liga Empreendedora da Unicamp, a Baita Aceleradora e a Aceleradora de Campinas, o Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, além da criação de uma lei municipal de incentivo fiscal para “empresas enquadradas como startups”.

A Aceleradora de Campinas, iniciativa da prefeitura, ajudou a desenvolver 10 empresas, sendo duas delas na área de saúde. Uma delas, a GlicOnline, ajuda no controle de diabetes pelo paciente e remotamente pelo médico, a partir do registro de medições de glicemia e quantidade de calorias ou carboidratos ingeridos, que resultam no cálculo de dose de insulina necessária. A solução está sendo implementada em hospitais da rede pública local, como o Ouro Verde e o Mário Gatti.

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Fora do foco

Mas nem tudo acontece na Unicamp ou em Barão Geraldo, bairro universitário próximo. A 13km dali, na região central da cidade, novos núcleos despontam, formados principalmente por empreendedores não oriundos do meio acadêmico. Joseph Bregeiro é um deles. O programador cofundou em Campinas sua startup Widbook, apelidada de “YouTube dos livros” por permitir que qualquer pessoa crie e distribua suas obras literárias em uma plataforma social.

Depois de uma visita ao Vale do Silício, passou a focar em operação local, fazer contatos na região e realizar pequenos eventos por conta própria, sendo um deles importado do Vale: o Startup Grind, já na sua quinta edição na versão campineira.

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Nesse meio tempo, conheceu o Berlim Coworking. Aberto desde setembro, o espaço tem por função hospedar startups e organizar eventos para a comunidade de empreendedores. Denis von Brasche, de 32 anos, dirige o local. Após voltar de uma viagem pela Alemanha, onde trabalhou com startups em espaços comuns de trabalho (coworking), resolveu abriu um, no mesmo estilo, em Campinas. O espaço conta com eventos, é parceiro da ACS e já recebe reuniões fixas de grupos como o de Desenvolvedores Google (GDG).

“A cena de startups de Campinas ainda está muito ligada à Unicamp. Tem um lado bom porque a Unicamp tem um incentivo muito grande à inovação. Mas o problema é o ecossistema ficar restrito à instituição”, diz. “A gente está aqui para tentar descentralizar um pouco essa cena.”

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