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Startups miram oportunidades de negócios dentro do WhatsApp

Geração de empresas constrói ferramentas para que o aplicativo de mensagens seja mais do que bate-papo

Por Giovanna Wolf
Atualização:

Tudo começou com conversas entre amigos e familiares. Depois, vieram os grupos de trabalho. Por fim, surgiram os canais de atendimento. Agora, praticamente tudo acontece no WhatsApp: o app soma dois bilhões de usuários ao redor do mundo, sendo o Brasil seu segundo maior mercado, atrás apenas da Índia.

Nos últimos anos, a popularização do “zap” foi tamanha que abriu oportunidade para que startups criassem modelos de negócios mirando a plataforma – eles vão desde ferramentas para melhorar o contato entre empresas e clientes até soluções de educação e assinaturas para entrar em grupos.

Startup ChatClass, deJan Krutzinna, criou robô para ensinar inglês dentro do WhatsApp; soluções já vão além do simples atendimento ao cliente Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Como o zap é um lugar de conversas, o serviço mais óbvio oferecido por essas startups é o chatbot (softwares de comunicação automática via mensagem). O segmento já tem um grande nome brasileiro: a startup mineira Take, que levantou um aporte de US$ 100 milhões em outubro de 2020. Veterana na área de tecnologia, ela nasceu em 1999 atuando com atendimento por SMS e venda de toques musicais para celulares – os famosos “ringtones” –, que faziam sucesso nos celulares de antigamente. Com o avanço da tecnologia, a Take teve de se adaptar aos novos tempos e hoje ajuda marcas como Coca-Cola e Itaú a conversarem com clientes pelo WhatsApp

A startup é dona de uma plataforma chamada Blip que, integrada ao WhatsApp, usa inteligência artificial para ajudar na automatização das conversas e também no direcionamento do cliente para atendentes humanos. “Não oferecemos apenas um chatbot. Nossa solução é um contato inteligente que consegue inclusive usar a localização do usuário para indicar um vendedor da loja mais próxima”, explica Roberto Oliveira, CEO da Take. O canal principal usado pela empresa hoje é o WhatsApp, mas ela também atua em plataformas como o Facebook Messenger e a assistente de voz Alexa, da Amazon

Em 2020, a Take foi ponte para dez bilhões de mensagens. A startup tem 1,2 mil clientes, e a meta em 2021 é ganhar 500 novos clientes por mês. “Além de melhorar nossa plataforma, a expansão internacional é uma das prioridades. Estamos abrindo operação no México, nos EUA e em Portugal”, diz Oliveira.  

Startup Take, de Roberto Oliveira,usa inteligência artificial para ajudar na automatização das conversase também no direcionamento do cliente para atendentes humanos Foto: Vitor Maciel/Take Blip

Outro nome que aposta no atendimento via zap é a mexicana Yalochat, presente no mercado brasileiro há dois anos. A startup oferece uma plataforma para companhias personalizarem o atendimento de seus consumidores no app. No ano passado, ela ganhou um reforço “canarinho”: um aporte de US$ 15 milhões liderado pelo fundo B Capital Group, de Eduardo Saverin, o brasileiro cofundador do Facebook. “Há espaço para democratizar o uso de tecnologia e permitir que todos que tenham WhatsApp consigam usar serviços digitais”, disse Javier Mata, presidente executivo da Yalochat, em entrevista ao Estadão na época do investimento. 

Variedade

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Atendimento ao cliente, porém, está longe de ser o único alecrim dourado do WhatsApp. A startup ChatClass, por exemplo, desenvolveu um robô que ensina inglês pelo app – os alunos praticam o idioma pela plataforma por meio de texto e áudio, recebendo feedback em tempo real, enquanto os professores acompanham o desempenho da turma com base nos dados disponibilizados pela ferramenta.

Fundada em 2014, a empresa já levantou um aporte de R$ 3 milhões, em rodada liderada pelos fundos Canary e Graph Ventures. “A educação digital no Brasil precisa ser democratizada, e não acredito que isso vá acontecer com iPad e apps sofisticados”, diz o alemão Jan Krutzinna, fundador da ChatClass, que se mudou para o Brasil em 2017. “O Brasil é um dos líderes em mensageria. A limitação de um país também cria espaço para inovação.” 

Segundo a startup, o robô de inglês já foi usado por 400 mil alunos de escolas públicas e particulares no Brasil. Para manter seu negócio, a startup aposta na oferta de alguns serviços pagos, como cursos que incluem aulas de conversação em grupo com mediação de professores. Além disso, a empresa faz contratos com escolas e editoras para o uso da ferramenta. 

Há também quem aposte no potencial dos grupos do WhatsApp. É o caso da ChatPay, fundada em 2020, que ajuda a criar grupos pagos no app. A empresa enxergou potencial nesses espaços, que começaram a ser usados por influenciadores e coaches, principalmente da área de saúde e bem-estar, para programas de orientação em assuntos como nutrição, emagrecimento e atividade física. Por meio da plataforma da ChatPay, os donos dos grupos podem vender vagas para acessar o “clubinho” – o pagamento pode ser único ou por assinatura. 

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“Atendemos também nichos como grupos de investimentos e de mentorias”, diz Arthur Alvarenga, fundador da ChatPay. A startup passou por aceleração da americana Y Combinator e já levantou US$ 2,3 milhões. 

Empurrão

Ir além das mensagens simples é um plano do próprio WhatsApp, que pertence ao Facebook. Em 2018, a empresa lançou o WhatsApp Business, versão corporativa do app. Desde então, vem lançando recursos focados em vendas e atendimento ao cliente, como catálogo e carrinho de compras. É um caminho ditado pelo app chinês WeChat, que, por lá, já é uma plataforma que une comunicação, serviços, vendas e pagamentos. 

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Na visão do WhatsApp, as startups têm sido fundamentais para ampliar o papel do app nos negócios. “Por ter inovação em seu DNA, elas são rápidas e antecipam movimentos de mercado com casos de uso relevantes”, disse Cristiane Reis, diretora de parcerias do WhatsApp para a América Latina, em nota ao Estadão

Para Guilherme Fowler, professor do Insper, contar com a ajuda de startups para turbinar o app é um caminho inteligente. “Sem elas, o WhatsApp teria de ser gigante para criar um cardápio grande de soluções – e levaria mais tempo. É mais eficiente e barato buscar empresas especializadas, focadas em tecnologia”, afirma. Por outro lado, apesar do potencial da plataforma, a relação com o aplicativo pode ser perigosa para as startups: “Esse movimento é uma tendência, mas as startups não podem ficar refém do WhatsApp. É preciso garantir o serviço também em outras plataformas, para não colocar o negócio apenas na mão do Facebook, que pode mudar as regras do jogo a qualquer momento”, diz Fowler. 

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