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‘Superanjo’ de startups, fundador do Viva Real cria novo fundo e fortalece rede de empreendedores

Brian Requarth, veterano do ecossistema nacional, cria comunidade e fundo para orientar empreendedores novatos

Por Giovanna Wolf
Atualização:

O americano Brian Requarth tem uma trajetória de longa data no mercado latino-americano: em 2009, ele ajudou a fundar o marketplace de imóveis Viva Real, que depois passou a fazer parte do Grupo Zap. Agora, após vender a empresa para a OLX Brasil por R$ 2,9 bilhões em 2020, Requarth está focado em apoiar o ecossistema de startups da região em que teve sucesso com seus negócios. 

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Além de atuar como investidor-anjo em mais de 50 startups, entre elas as brasileiras QuintoAndar e Quero Educação, Requarth fundou em outubro a Latitud, uma comunidade voltada a startups da América Latina em estágio inicial. É um projeto construído em conjunto com Gina Gotthilf, brasileira que já passou por empresas como Tumblr e Duolingo, e Yuri Danilchenko, ex-executivo da startup de compras inteligentes Escale – o objetivo é construir a próxima geração de empreendedores da região. 

Até agora, 129 startups passaram pelos programas de mentoria oferecidos pela Latitud. Entre os mentores da rede estão nomes como David Vélez, cofundador do Nubank, Sergio Furio, fundador da Creditas, e Thomaz Srougi, fundador do Dr. Consulta. “É um ecossistema que precisa compartilhar experiências e dar essas informações aos novos fundadores, para que seja mais fácil para a próxima geração”, diz Requarth, em entrevista ao Estadão

Neste mês, o projeto encorpou com a criação de um fundo para investir em suas startups – os cheques variam de US$ 25 mil a US$ 250 mil. O fundo Latitud funciona no modelo de rolling fund, que, diferente de fundos tradicionais, realiza a captação a cada trimestre. “É praticamente uma extensão do que eu já estava fazendo sozinho, mas aumentando o potencial dos investimentos”, afirma o executivo. 

Além de explicar a estratégia do novo fundo, Requarth falou sobre seu novo livro, “A real sobre empreender” (Editora Gente), em que ele ajuda a guiar empreendedores com conselhos práticos. Confira os melhores momentos. 

Requarth investe em startups da América Latina Foto: Arquivo Pessoal

Por que criar a Latitud?

Muitos empreendedores buscavam Gina, Yuri e eu, pedindo ajuda sobre vários temas. Em vez de respondermos a cada um pontualmente, decidimos construir essa comunidade para ajudar o empreendedor que está começando. Temos recebido milhares de inscrições e vamos começar um novo programa em junho – esperamos cerca de 60 empreendedores. Estamos buscando projetos que ainda estejam em fase de ideação: fundadores que tenham um produto viável mínimo ou até que estejam ainda na fase de pensar o que querem construir. Queremos ajudar a direcionar a estratégia dos negócios. 

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Por que o foco no começo da vida da startup?

É uma fase em que há muitas dúvidas, desde o tipo de empresa que se deve criar em termos de estrutura até onde encontrar capital e conseguir seus primeiros clientes. O nome Latitud já traz uma ideia interessante sobre isso: se você está saindo de barco do Rio de Janeiro e tem como destino a África do Sul, caso você comece cinco graus na direção errada, o barco termina na Austrália. Gosto de ajudar a cortar o caminho e há padrões nessas experiências que são super claros. É um ecossistema que precisa compartilhar experiências e dar essas informações aos novos fundadores. Já cometemos muitos erros e não quero que eles sejam replicados.

Dar acesso a capital com o fundo Latitud foi um segundo passo natural?

Depois do nosso primeiro programa, terminei investindo em várias empresas como pessoa física. O fundo é praticamente uma extensão do que eu já estava fazendo sozinho, mas aumentando o potencial dos investimentos. 

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Como o fundo opera?

Não é um fundo tradicional: somos quase como um “superanjo”. Muitas vezes, um fundo normal quer comprar 15% ou 20% de uma empresa. No nosso caso, porém, podemos ter só 2% e investir ao lado de outros fundos, com cheques de US$ 25 mil a US$ 250 mil – é pouco dinheiro. Mas o fundo Latitud existe porque eu sinto que as melhores pessoas para investir no começo da vida das startups são os empreendedores. Entendemos como começar, como construir um produto e colocá-lo no mercado. Normalmente, terminamos investindo só nas empresas que fazem parte da comunidade e isso permite que a gente conheça muito bem os fundadores. A ideia é ajudá-los também a procurar um capital maior que o nosso.

Como é feita a captação de recursos?

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A captação também é diferente. Hoje, em um fundo de investimento tradicional, normalmente há uma meta da quantidade de dinheiro a ser levantada, e acontecem fechamentos ao longo do processo – você levanta durante 18 meses, por exemplo, até fechar o fundo. No caso do fundo Latitud, funcionamos como um rolling fund. É basicamente investimento por assinatura, que lembra o modelo de crowdfunding. Se você quer investir US$ 200 mil no fundo, termina investindo não todo o dinheiro ao mesmo tempo, e sim uma assinatura de US$ 25 mil a cada trimestre (durante 8 trimestres). A cada trimestre é um novo fundo: se investimos em cinco empresas em um trimestre, esses US$ 25 mil têm participação nas cinco empresas. Assim, o investidor tem exposição no fundo em cada trimestre e a cada mês há novos assinantes – a quantidade de dinheiro que temos para investir também cresce. Somos o primeiro fundo na América Latina a ter essa estrutura. 

Qual é o perfil dos investidores?

São dois perfis principais. Primeiro, fundadores de startups, como Sergio Furio, da Creditas, e David Vélez, do Nubank. E há também sócios de outros fundos. Como nosso foco é em startups em estágio inicial, fundos gostam de ver o que estamos olhando – é como se fosse um funil para rastrear quais são as empresas mais interessantes. 

Como a Latitud atua com as startups na prática?

Nossos mentores são outros fundadores e investidores. É uma forma de poder estar presente em várias coisas ao mesmo tempo. Se você precisa entender sobre regulação de fintech no México, por exemplo, temos pessoas locais que fazem parte da nossa comunidade e que podem te ajudar. Obviamente, ao escalarmos, não conseguimos apoiar cada empresa em tudo. Por isso criamos uma comunidade, para ter mais gente disposta a ajudar. A ideia não é estar superconcentrado só em uma empresa. 

Essa ideia lembra a rede de empreendedores Endeavor. Há mesmo essa inspiração?

Sem dúvida. Há coisas parecidas, mas a diferença principal é a fase: a Endeavor é focada em empresas mais maduras. Gosto de pensar que estamos preparando e ajudando a criar a próxima geração de empreendedores Endeavor. 

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Como o livro “A real sobre empreender” se encaixa com os seus projetos atuais?

É o livro que eu gostaria de ter lido quando comecei. Falo de criação de time, construção de confiança, relacionamento com fundadores, como se preparar para escalar, entre outras coisas. É também mais uma forma de dar algo de volta para a região da América Latina. Eu fui muito bem com meus negócios no Brasil, me sinto grato. Seria mais fácil para mim ficar aqui na Califórnia e focar em investir no setor imobiliário, em ações, ou o que quer que seja. Estou pegando boa parte do meu dinheiro e reinvestindo na região. 

Qual é a melhor forma de aconselhar um novo empreendedor? O que faz do conselho ser um bom conselho?

Não funciona dizer o que o empreendedor deve fazer. Precisa ter uma estratégia mais socrática de fazer perguntas e ajudar o empreendedor a ter uma visão por outro ângulo. Tenho muita preocupação quando um investidor é muito assertivo sobre o que o empreendedor deve fazer. É impossível ter uma visão e perspectiva igual a de um fundador que está executando o seu negócio na prática – afinal, o empreendedor tem uma visão de 360 graus. A única coisa que posso fazer é compartilhar certos padrões que eu vejo e algumas práticas. Você pode ajudar a pensar, mas, no final das contas, precisa deixar o empreendedor ter o espaço dele.

Quais são os planos da Latitud no longo prazo? Onde vocês querem chegar?

Queremos ser o lugar onde você vai quando começa uma empresa. Há muitas coisas que demandam muito tempo – e dinheiro – ao abrir um negócio. Precisa, por exemplo, abrir contas no Slack e no Zoom, contratar um serviço de nuvem, falar com advogados, captar investimento... No Brasil especialmente, comparando com os EUA, tudo isso demora muito. Gosto de ser esse ponto de partida para os empreendedores, onde você vai e tem acesso a outras pessoas que podem ajudar em todos esses processos. Nosso grande sonho é que a Latitud ajude o empreendedor a criar sua empresa em um “clique” e pegar investimento em outro “clique”. Vamos desenvolver vários frutos nesse sentido nos próximos meses. 

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