Tembici capta R$ 430 milhões e vai expandir locação de bicicletas elétricas

Startup de mobilidade teve aporte liderado pelo fundo Crescera e também linhas de crédito verde com o Itaú e o Santander; meta é colocar mais 10 mil bicicletas nas ruas (50% delas elétricas) até 2022

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Por Andre Jankavski
Atualização:

A startup de mobilidade Tembici, especializada na locação de bicicletas em grandes centros, anuncia nesta quinta, 30, a captação de US$ 80 milhões (cerca de R$ 430 milhões no câmbio atual) para acelerar a sua expansão no mercado brasileiro e latino. O aporte foi liderado pelo fundo Crescera Capital, mas também conta com um montante vindo em forma de crédito verde dos bancos Itaú e Santander. Entre os principais planos da empresa está o aumento do número de bicicletas elétricas disponibilizadas para os clientes.

“A captação é para continuarmos crescendo e vamos ampliar os investimentos em tecnologia e dados para consolidar as bicicletas elétricas e o novo modelo de negócio focado em cicloentregas”, afirma Tomás Martins, presidente e cofundador da Tembici.

Tomás Martins e Maurício Villar, co-fundadores: meta é expandir bicicletas elétricas Foto: Gui Gomes/Divulgação

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A aproximação da Tembici com o Crescera começou no início do ano passado, mas esfriou com o início da pandemia, quando a operação da Tembici ficou praticamente paralisada com as pessoas fechadas em casa. Porém, segundo Fernando Silva, sócio do Crescera, o interesse continuava em alta e a visão do fundo é que a empresa cresça de maneira acelerada nos próximos anos. A ideia é esse movimento se encaminhe para abertura de capital nos Estados Unidos em até três anos.

“Investimos em um plano de expansão dentro e fora do Brasil. Estamos mirando o sonho grande que é tocar o sino na Nasdaq daqui a dois ou três anos”, afirma Silva. 

Conhecida pelas bicicletas laranjas com o logo do Itaú (que continua sendo um dos principais patrocinadores da startup), a empresa opera 16 mil bicicletas atualmente. Com dinheiro em caixa, a meta da Tembici é aumentar em 10 mil o número de bicicletas, sendo 50% delas elétricas. 

“O futuro é elétrico. Acreditamos que os modais leves movidos a eletricidade trazem uma maior eficiência para o deslocamento e nos nossos pilotos com bicicletas elétricas percebemos uma utilização 30% maior em comparação às convencionais”, afirma Maurício Villar, cofundador do Tembici e diretor de operações.

Hoje, a Tembici conta com 1 mil bicicletas elétricas em operação. No Rio de Janeiro, são 500 unidades que ficam paradas nas estações de locação. Já em São Paulo, a empresa fez uma parceria com o iFood, que também funciona como patrocinador, para fornecer bicicletas aos entregadores.

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Porém, a ideia da empresa é que a expansão das bicicletas elétricas seja mais focada no público final do que em projetos como o do iFood. Não por acaso, as 5 mil unidades que serão colocadas nas ruas até o fim de 2022 serão exclusivas para o público final.

Mais viagens e menos patrocínios

Com o novo aporte, a Tembici também quer depender menos de patrocínios. A startup surgiu com um modelo de negócio em que o banco Itaú colocava dinheiro para estampar a sua marca nas bicicletas espalhadas pelo Rio de Janeiro. Ou seja, era um modelo de negócio viabilizado somente com um grande patrocínio. Com isso, o Tembici se expandiu para outras cidades como São Paulo, Porto Alegre, Salvador, entre outras - sempre com o Itaú por trás. A startup tem contratos similares fechados com empresas como a Mastercard na Argentina. 

Nos últimos anos, porém, a participação desse tipo de contrato no faturamento caiu de 80% para 50%. Segundo Villar, isso não aconteceu pela falta de interesse de patrocinadores, mas pelo aumento do número de viagens pagas pelos seus usuários. Os preços para alugar bicicletas da Tembici em São Paulo, por exemplo, vão de R$ 2,99 (por viagens de até 15 minutos) até R$ 358,80 (no plano anual).

“A nossa estratégia é crescer cada vez mais a receita vinda diretamente do consumidor. Isso não quer dizer que as parcerias vão acabar, mas que o nosso foco é na locação direta”, diz ele.

Segundo o executivo, a empresa já tem geração de caixa positiva e tem dinheiro suficiente para realizar esse próximo plano de expansão. A ideia no curto e médio prazo, afirma Villar, não é buscar novos aportes, mas continuar o plano de crescimento com o dinheiro gerado dentro da empresa.

Sem rivais (por enquanto)

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A companhia, por enquanto, segue sem rivais diretos nesse mercado. Isso porque a Grow, a sua então principal rival, saiu das ruas após realizar um pedido de recuperação judicial no início do ano passado - e não voltou mais. 

Ao contrário da Tembici, as bicicletas e patinetes elétricos da Grow ficavam espalhados pela cidade sem um ponto físico de estacionamento. Resultado: os clientes eram menos cuidadosos e o custo da startup com manutenção disparou. A Grow chegou a receber aportes no valor de US$ 150 milhões. 

Ao mesmo tempo, outras empresas tentaram operar patinetes elétricos no País, mas desistiram, como a Uber. Porém, outras estão chegando. A FlipOn, sediada em São Carlos, comprou 12 mil patinetes e 9 mil bicicletas elétricas da Grow e deseja colocar os modais nas ruas de São Paulo ainda este ano.

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