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Theia, startup focada na saúde da mulher, leva aporte de R$ 30 mi

Após abrir espaço físico, companhia quer avançar no território dos planos de saúde; com investimento, equipe deve crescer

Foto do author Bruna Arimathea
Por Bruna Arimathea
Atualização:

Apesar de as startups de saúde (healthtechs) terem ganhado corpo no Brasil nos últimos dois anos, companhias voltadas para a saúde da mulher (femtechs) nem sempre tiveram destaque. Isso pode estar começando a mudar com a Theia, startup que começou como um serviço de telemedicina e que recentemente inaugurou uma clínica em São Paulo. A companhia anuncia nesta quarta, 13, um aporte de R$ 30 milhões, liderado pelos fundos 8VC e Canaan, ambos estrangeiros e especializados em saúde. Além disso, o Kaszek, tradicional investidor de startups brasileiras, participou da rodada. 

“2021 foi um ano de aperfeiçoamento. Trabalhamos o cuidado ponta a ponta, do online para o offline. Parte do investimento é montar um time como um centro científico, no qual a gente vai refinar nossa metodologia de cuidado”, afirma ao Estadão Flávia Deutsch, cofundadora da Theia.

Paula Crespi e Flávia Deutsch da femtech Theia com a médica Laura Penteado; startup recebeu aporte de R$ 30 mi Foto: Felipe Rau/Estadão

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Segundo ela, o dinheiro vai ser utilizado para aumentar o time de profissionais da saúde, além de ter parte destinada para o time de tecnologia. Os novos contratados atuarão tanto na plataforma da startup, que é utilizada para as consultas e acompanhamentos virtuais, quanto nos serviços oferecidos na clínica.

Depois de saltar do online para o offline, a Theia quer dar um passo também em direção ao universo dos planos de saúde, complementando a oferta de consultas particulares. Para Paula Crespi, também cofundadora da startup, esse é um ponto essencial para escalar o negócio. “A gente quer entrar no mundo do plano de saúde porque são poucas as mulheres que podem pagar por consultas particulares desse tipo. Já estamos em negociações e a rodada tem a ver com isso”. 

Amor de mãe

Criada em 2019, a Theia foi gestada juntamente com o segundo filho de Flávia e o primeiro de Paula Crespi: o nascimento das crianças coincidiu com o lançamento da startup. Coincidentemente, o aporte chega em momento de nova gravidez para as duas. E o crescimento da “equipe” não será apenas na casa das fundadoras. Hoje, a Theia conta com 50 pessoas, a maior parte alocada no time de tecnologia. A ideia é chegar a 100 até o final do ano. 

Os novos bebês vão permitir que as fundadoras experimentem o serviço da startup integralmente. No início, todas as consultas eram online, mas com a crescente oferta de serviço, Flávia e Paula decidiram que era hora de abrir uma clínica física. 

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No app, a primeira interação é sempre virtual - a plataforma mira mulheres que já estão esperando um bebê ou por aquelas que estão se planejando para serem mães. Entre os especialistas, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas complementam os serviços de obstetras na hora de fazer o pré-natal - a rotina da grávida inclui exames e checagens em fases críticas da gestação. 

Já a clínica foi criada para a realização de exames específicos, que não podem ser feitos de forma remota. O espaço foi inaugurado em janeiro deste ano e, embora não haja plano de abrir outras filiais em 2022, a ideia de ter outras clínicas é um item na lista da Theia para o médio e o longo prazo. 

“Quando entendemos que a gente tinha uma base sólida, lançamos a clínica. É um lugar que representa muito os nossos valores e quando demos esse passo fomos para o mercado buscar uma rodada de investimento”, explica Flávia. “Agora é hora de escalar essa operação e investir ainda mais em tecnologia”.

Primeiros passos 

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Embora a fase de engatinhar esteja ficando para trás, o mercado de femtechs ainda tem um longo caminho. Tanto para empresas fundadas por mulheres quanto para as que apostam em serviços de saúde voltados para elas, o cenário é desfavorável.

Gilberto Sarfati, professor da FGV, afirma que ainda é difícil ver o crescimento dessas startups por um problema que começa na raiz da cadeia de inovação: a presença feminina em fundos de investimento e na fundação de startups ainda é pequena no Brasil. 

Entre as quase mil startups de saúde existentes no Brasil, apenas 23 são voltadas para cuidados com a mulher, de acordo com relatório da empresa de inovação Distrito. As fundadoras são apenas 4,3% entre os homens, segundo o movimento Femtechs Brasil.

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Por outro lado, o potencial do mercado é grande. A demanda de serviços de saúde para mulher é tão grande quanto os cuidados que as pacientes demandam. Na gestação, por exemplo, o parto é um dos momentos de maior insegurança das mães - tanto em relação aos profissionais quanto com a forma com que os procedimentos são realizados.

O Brasil é um dos países que mais realizam cesáreas no mundo e, segundo o Painel de Indicadores de Atenção Materna e Neonatal de 2021, 84% dos partos da rede particular no País não é natural — a cirurgia no parto só é recomendada em casos de impossibilidade de nascimento natural e normalmente torna a recuperação das mulheres cerca de três vezes mais lenta.

Esse é um dos pilares de trabalho da Theia, que já consegue ter a taxa de partos normais em 50%. O serviço é um exemplo do que as startups de saúde da mulher podem oferecer — e ilustra como o mercado pode ser grande em oferta e serviços.

“É um setor incipiente, mas com enorme potencial. Maisgente vai olhar com interesse este mercado”, pontua Sarfati.

Algumas empresas já começam a olhar o valor desse mercado. A Vibe Saúde, empresa de atendimento médico por telemedicina, criou no final de março, uma divisão dentro da startup voltada apenas para a saúde da mulher. Já a Oya Care recebeu um investimento de R$ 16 milhões em fevereiro.

É uma visão que Maria Fernanda Musa, diretora de aceleração de negócios da Endeavor, também compartilha. Ainda é uma vertical que está começando a se desenvolver, mas vamos ver cada vez mais empresas surgindo porque aliam alguns fatores favoráveis para o crescimento”, afirma Maria Fernanda Musa, diretora de aceleração de negócios da Endeavor. 

Para a Theia, a ideia é crescer e se tornar um “hub da maternidade”. “A gente tem uma visão que é ser um centro de saúde da maternidade. É o momento de dor mais aguda dentro do universo em que a gente atua", diz Paula. 

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