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Vale do Silício não evitou crise de produtividade

Apesar da influência cada vez maior da tecnologia, impacto nas empresas é menor do que o esperado

Por Agências
Atualização:

NYT

 

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Por Tyler CowenTHE NEW YORK TIMES

Os salários da classe média dos Estados Unidos não sobem tanto quanto costumavam subir e o motivo é, provavelmente, uma queda do aumento da produtividade. Numa economia madura, o aumento da produtividade é imprescindível para que o padrão de vida aumente sistematicamente, mas desde o início de 2005, a produtividade da mão de obra cresceu a uma média de apenas 1,3% ao ano nos EUA, em comparação a 2,8% ao ano nos dez anos anteriores. Sem aumento da produtividade, o padrão de vida se manterá defasado.

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No entanto, nem todo mundo vê a situação desta maneira. O empreendedor e investidor do Vale do Silício, Marc Andreessen, afirma que a tecnologia traz importantes benefícios que não aparecem nos cálculos normais dos salários e da produtividade. Os consumidores têm acesso gratuito a Facebook, Google e Wikipedia e esse benefício não é computado nos dados oficiais. A ideia de que a vida está melhorando – frequentemente de maneiras que mal conseguimos calcular – é muito comum na área de tecnologia.

Até pouco tempo atrás, este debate era inconclusivo. Ele consistia principalmente de episódios, em que indivíduos descreviam a importância de avanços e o que a internet representava para eles pessoalmente. Mas agora o professor de economia da Universidade de Chicago, Chad Syverson, analisou as evidências e concluiu que a queda da produtividade é absolutamente real. Os resultados estão num estudo intitulado Challenges to Mismeasurement Explanations for the U.S. Productivity Slowdown (Contestando as explicações a respeito de cálculos incorretos sobre a queda da produtividade nos EUA, em tradução literal).

No relatório, o professor Syverson observa que dezenas de economias avançadas sofrem esta queda, mais ou menos ao mesmo tempo, o que indica que se trata de um fenômeno geral. Países em que o setor de tecnologia é pouco desenvolvido também sofrem quedas de produtividade de tamanho comparável, o que não é o esperado se grande parte da produtividade não mensurada estivesse escondida pelo setor de tecnologia.

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Um problema adicional na interpretação otimista é o seguinte: a queda da produtividade se dá numa escala grande, em relação ao tamanho do setor de tecnologia, para que seja razoável compensá-lo pelo progresso tecnológico. Segundo uma estimativa conservadora, a queda da produtividade levou a uma perda cumulativa de US$ 2,7 trilhões do Produto Interno Bruto (PIB) desde o final de 2004; ou seja, a produção teria sido muito maior se a taxa inicial do crescimento da produtividade tivesse sido mantida. Para compensar esta diferença, segundo Syverson, o excedente de consumo (os benefícios para o consumidor que superam o preço do mercado) teria de ser cinco vezes superior ao mensurado nas empresas de produtos e serviços na área de tecnologia da informação.

É preciso lembrar que, enquanto o Facebook é oferecido gratuitamente aos seus usuários, grande parte do setor de tecnologia consiste de serviços que são medidos e pelo menos em parte incorporados no PIB. O aplicativo Uber, por exemplo, oferece transporte pago. Facebook, Google e Wikipedia têm uma grande parte do seu valor expresso em dados do PIB, embora indiretamente. Esses serviços fazem as pessoas comprarem smartphones, banda larga e essas compras são registradas como parte do PIB.

Deste ponto de vista, o problema da mensuração não é tão sério. É como ir a um restaurante em que podemos nos servir à vontade. O frango talvez seja gratuito, mas com tantos itens de qualidade, os clientes são induzidos a pagar mais pelo total que levam no prato. Além disso, parte do valor do Google e do Facebook vem da publicidade que induz a fazer várias compras, por sua vez registradas nas estatísticas nacionais. Os consumidores pagam também por muitos aplicativos. Nenhuma destas observações deveria ser considerada uma não valorização da tecnologia da informação. É provável que a internet tenha registrado seus ganhos maiores desde meados até o final dos anos 90; naqueles anos, a produtividade econômica mensurada era muito elevada.

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A tecnologia da informação continua sendo um dos setores mais dinâmicos dos EUA e vai continuar a se tornar cada dia mais influente, mesmo que o seu impacto absoluto não seja tão grande quanto sugerem os otimistas. Ainda assim, continuamos com um grave problema de produtividade. Embora muitos empreendedores da internet sejam heróis em termos econômicos, os especialistas em estatística também são excelentes no que fazem, e talvez precisemos aceitar algumas das lições de seus números. A queda da produtividade dos EUA é real e não acabou. Embora a tecnologia continue sendo a fonte mais provável de futuros progressos para empresas de todos os segmentos da economia, o Vale do Silício ainda não demonstrou ser a nossa salvação.

 /TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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