Startup de saúde Alice recebe aporte de US$ 127 milhões

Healthtech avança no mercado corporativo e planeja reforçar operação em São Paulo

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Por Giovanna Wolf
Atualização:

Após levantar US$ 33,3 milhões em fevereiro, a startup de saúde Alice fechará 2021 com um novo e polpudo cheque no bolso. A empresa anuncia nesta terça-feira, 21, que recebeu um investimento de US$ 127 milhões liderado pelo conglomerado japonês SoftBank. Trata-se de um dos maiores investimentos já feitos no mercado de “healthtechs” do País, que levantou mais de US$ 307 milhões em aportes até novembro, segundo a empresa de inovação Distrito. 

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A rodada foi acompanhada pelos fundos Kaszek e ThornTree Capital Partners, que já investiam na empresa. Novos investidores também chegam à Alice, como Allen & Company LLC, G Squared, Globo Ventures e StepStone. 

A startup não revelou sua avaliação de mercado após o aporte, mas André Florence, fundador e presidente executivo da Alice, disse ao Estadão que a empresa ainda não atingiu o título de “unicórnio” (nome dado às empresas de tecnologias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão). A Distrito aponta a Alice como uma das healthtechs brasileiras candidatas ao status bilionário, ao lado de Dr. Consulta e Memed.

A Alice se define como uma “gestora de saúde individual”: a empresa nasceu em meio à pandemia oferecendo um plano de saúde que mescla atendimento digital com presencial. Por trás do negócio, estão veteranos do ecossistema de inovação: André Florence e Matheus Moraes, ambos ex-99, e Guilherme Azevedo, cofundador do Dr. Consulta.

O serviço, lançado em junho de 2020, é oferecido por meio de um app, que conecta pacientes a profissionais de saúde contratados pela própria startup, além de uma rede de 10 hospitais e 200 laboratórios parceiros, como o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a rede Fleury. 

A Alice nasceu em meio à pandemia oferecendo um plano de saúde que mescla atendimento digital com presencial Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A plataforma organiza os dados dos pacientes para históricos em consultas e aposta na prevenção e no acompanhamento do bem-estar do usuário. As informações são usadas para agilizar o atendimento: se o usuário relata uma dor de cabeça, por exemplo, é criado um canal dentro do app para o time de saúde da Alice acompanhar o problema em várias etapas. Depois, os dados, incluindo resultados de exames, são guardados para futuros atendimentos. 

A Alice diz que atende hoje aproximadamente 6 mil pessoas – o plano de saúde está disponível apenas na cidade de São Paulo. Além do aplicativo, a startup tem a clínica Casa Alice, espaço físico na Avenida Rebouças, em São Paulo, que funciona como ponto de apoio para o acompanhamento de usuários.

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Até então, desde sua fundação em março de 2019, a startup havia recebido US$ 47,8 milhões em investimentos – um cheque de US$ 14,5 milhões em 2019, antes mesmo de iniciar a operação, e outro de US$ 33,3 milhões em fevereiro passado. 

"Menos de um quarto dos brasileiros tem acesso à saúde privada – e mesmo essas pessoas não usufruem de um atendimento agradável. Fomos atraídos pela equipe da Alice e sua visão de longo prazo", disse Paulo Passoni, sócio-diretor de investimentos do fundo do SoftBank para a América Latina, em nota nesta terça-feira. 

Musculatura

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Com os novos recursos, a Alice ampliará seu escopo de atuação, dando seguimento a um processo que começou nos últimos meses. Em novembro, a healthtech passou a oferecer consultas digitais fora do plano em todo o Brasil. A startup incluiu no aplicativo a opção de atendimentos de emergência e consultas com nutricionistas, psicólogos e preparadores físicos para quem quiser pagar os serviços à parte – os atendimentos remotos estão disponíveis entre R$ 80 e R$ 165, em qualquer localidade. 

Com o tempo, a ideia da Alice é criar um “superapp” – formato popular na China que se refere a uma plataforma ampla, com oferta de variados e diferentes tipos de serviços. Um dos objetivos é incluir no aplicativo qualquer serviço relacionado à saúde e bem-estar (como meditação, massagem e acupuntura), além de conectar os pacientes com farmácias. Há também o plano de oferecer acompanhamento de saúde da mulher – nicho visado por outras startups como a Theia

Matheus Moraes (E),André Florence eGuilherme Azevedo: fundadores da Alice Foto: Alice

A empresa, que nasceu focada na venda de planos de saúde diretamente para pacientes, também avança no atendimento do mercado corporativo. No mês passado, a Alice anunciou a compra da startup Cuidas, que oferece consultas com médicos da família e enfermeiros para funcionários de empresas. 

“Acreditamos muito que o modelo individual vai gerar o maior acesso no longo prazo, mas achamos que tem um mercado muito importante de pessoas que têm acesso a planos de saúde por meio de empresas. Não podemos deixar isso de lado”, afirma Florence. “A fonte pagadora acaba mudando, mas o usuário da Alice ainda é uma pessoa.”

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Além disso, a Alice pretende encerrar 2021 com 600 pessoas, um crescimento de 430% em relação ao ano anterior – os times de tecnologia e saúde receberão os maiores investimentos. 

Capilaridade

Para Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) e colunista do Estadão, além de crescer de forma sustentável em um mercado muito competitivo e dominado por grandes operadoras de saúde, a Alice tem como desafio ampliar a cobertura do plano de saúde para além da cidade de São Paulo. 

Segundo Florence, mesmo com o novo aporte, a Alice seguirá focada em aumentar a operação na capital paulista, com expansão apenas para a região metropolitana. “Nós entendemos saúde como um negócio muito local. Temos de ter densidade e volume na cidade de São Paulo antes de pensar em ampliar para outros lugares”, diz Florence. 

Dentro do plano, a startup planeja criar novas Casas Alices em São Paulo no ano que vem, provavelmente na Zona Sul e Zona Oeste, onde está concentrada a maior parte dos clientes da Alice hoje. 

Um dos caminhos para a expansão também é o barateamento. A Alice vem adaptando seu serviço nos últimos anos para diminuir o preço dos planos de saúde: depois de começar no mercado em 2020 com uma aposta “premium”, com mensalidades a partir de R$ 850, a empresa tem hoje como produto de entrada um plano de R$ 575. 

Disputa 

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O mercado de planos de saúde está na mira das startups de saúde brasileiras. 

Um dos nomes fortes do setor é a Sami, que recebeu na semana passada um cheque de US$ 19,8 milhões (R$ 111 milhões) – a rodada foi uma extensão do aporte de R$ 86 milhões realizado no final de 2020. Antes uma prestadora de serviço de saúde para empresas, a Sami tem apostado nos planos individuais para funcionários de pequenos e médios negócios e para microempreendedores individuais. O serviço é feito pelo app da empresa e conta com telemedicina, agendamento de consultas, acesso ao serviço de academias Gympass e a exames. 

A startup Dr.Consulta, que se consolidou no atendimento ambulatorial, também está colocando os pés no setor de serviços emergenciais. Na última quinta-feira, 16, a empresa anunciou que comprou participação na cuidar.me e, com a parceria, vai oferecer planos de saúde para os seus clientes. 

Na visão de Guilherme Fowler, professor do Insper, exemplos de outros setores estão a favor das healthtechs. “Outros mercados, como o bancário, eram concentrados e as startups chegaram e bagunçaram tudo. Essa nova capitalização da Alice pode ser um indicativo de que a saúde será transformada em um futuro próximo”, diz. 

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