Criador da internet critica 'venda' de dados de navegação nos EUA

Para Tim Berners-Lee, população deve protestar caso provedores sejam autorizados a monitorar e compartilhar dados de usuários

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Por Brian Fung
Atualização:
Tim Berners-Lee se colocou contrário às novas regras dos provedores de internet Foto: REUTERS/Vincent West

Há mais de duas décadas, Tim Berners-Lee inventou a coisa que você está usando para ler esta reportagem agora — a World Wide Web (WWW). Desde então, a internet evoluiu de maneira que poucos poderiam ter previsto, dando origem a aplicativos e aos aparelhos conectados.

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Agora, enquanto se prepara para aceitar nesta semana o Prêmio Turing — honra que reconhece as realizações históricas de um cientista da computação —, Tim Berners-Lee refletiu sobre a recente votação do Congresso que institui novas regras para provedores de internet nos Estados Unidos. Abaixo, a conversa do Washington Post com Berners-Lee sobre o futuro da internet:

Qual foi sua reação à votação da semana passada? Ela faz sentido para você?

Na internet, fazemos coisas que são íntimas, como procurar doenças que estão nos deixando preocupados. Temos conversas íntimas com pessoas de uma forma que teríamos apenas na segurança de salas trancadas. Na internet, nós revelamos os detalhes mais íntimos de nossas vidas e das nossas esperanças. São medos e fraquezas que podem ser explorados. Talvez percebam que a votação não seja adequada. Mas se a proposta de lei avançar na direção que está tomando, acho que deve haver um grande protesto contra isso. 

Google e Facebook já coletaram e compartilharam dados de usuários para fins publicitários. Os provedores de internet são diferentes dessas empresas?

Essas indústrias são completamente diferentes. O negócio de fornecer dados é um negócio realmente importante para as empresas de internet. É como água. Enquanto isso, o fato de que seu provedor não compartilha seus dados de navegação fez com que essas empresas se tornassem bem sucedidas. É por isso que a internet dominou o mundo. Uma rede social é diferente. Você tem a escolha de fazer parte delas ou não e, mesmo se você for membro de uma dessas redes, você não faz de tudo por lá.

O que vai acontecer com usuários de internet como resultado desta nova lei?

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É possível que nada aconteça logo após o presidente Donald Trump assinar a lei. Mas vamos imaginar o que aconteceria se pessoas começassem a coletar e vender os cliques dos seus usuários de internet. A população se dividiria. Algumas pessoas iriam protestar e fazer o seu melhor para mudar para outro tipo de provedor, enquanto algumas pessoas iriam decidir que não teriam energia para fazer isso. Algumas pessoas começariam a usar Tor. As pessoas passariam a usar VPN (rede virtual privada), ao invés de usar sua conexão local. Tudo ficaria criptografado na internet.

Como proteger sua privacidade? Você usa um VPN?

Eu tenho VPNs disponíveis, mas… Eu não deveria usar. Na verdade, você não deveria usar também. Você deveria estar indo protestar para que o mundo exterior se torne um lugar onde você não precisa enganar seu provedor de internet para contornar problemas. Não devemos usar VPN para ter privacidade na web.

Se você pudesse refazer a internet a partir do zero, quais recursos você teria desenvolvido e que não existem hoje?

Eu acho que, talvez, pudéssemos ter olhado mais para a ideia de autenticação; de ser ou não identificado. Há algumas partes da internet em que precisamos ser verificados. Eu preciso ter a segurança que ninguém finja que sou eu. No entanto, também há alguns lugares onde os denunciantes precisam de anonimato. Precisamos construir sistemas que nos permitam fazer isso.

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