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Gigantes de tecnologia podem ficar ainda mais fortes após crise do coronavírus

Pandemia mostrou relevância das empresas do setor, que passaram os últimos anos sob ataque de cidadãos, políticos e órgãos reguladores

Por Daisuke Wakabayashi , Jack Nicas , Steve Lohr e Mike Isaac
Atualização:

Enquanto o resto da economia afunda com os efeitos desastrosos do coronavírus, os negócios das maiores empresas de tecnologia do mundo continuam bem – e estão até mais prósperos. A Amazon disse que estava contratando 100 mil trabalhadores de centros de distribuição para atender à crescente demanda. Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, disse que o tráfego de vídeo chamadas e mensagens explodiu. A Microsoft disse que os números de uso de seu software para colaboração online aumentaram quase 40% em uma semana.

Com as pessoas instruídas a trabalhar em casa e ficar longe umas das outras, a pandemia aumentou a dependência de serviços das maiores empresas de tecnologia, acelerando tendências que já vinham beneficiando o setor. A Amazon já vinha desbancando varejistas de lojas físicas e, agora, compradores relutantes em ir a essas lojas estão recorrendo à gigante do comércio eletrônico para comprar uma variedade mais ampla de produtos, como mantimentos e remédios vendidos sem receita.

Após anos de duras críticas, empresas de tecnologia estão mostrando seu papel e força em meio à crise do coronavírus Foto: Matt Chase/NYT

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Serviços de streaming como a Netflix reduziram as vendas de bilheteria dos filmes nos últimos anos. Agora, com os cinemas de portas fechadas sob ordens do governo, a Netflix e o YouTube estão ganhando um novo público.

As empresas já estavam trocando seus próprios data centers pelo aluguel de computação em nuvem da Amazon, Microsoft e Google. É provável que essa mudança se acelere à medida que milhões de funcionários são forçados a trabalhar de casa, pressionando as infraestruturas de tecnologia corporativa.

Até a Apple, que parecia estar entre as empresas norte-americanas mais vulneráveis ao coronavírus por causa de sua dependência de fábricas e consumidores chineses, parece estar indo muito bem. Muitas fábricas da Apple estão quase de volta ao normal, as pessoas estão gastando mais tempo e dinheiro em seus serviços digitais. Na semana passada, a empresa chegou até a lançar novos aparelhos. “As maiores empresas de tecnologia podem sair dessa crise muito mais fortes”, disse Daniel Ives, diretor gerente de pesquisa da Wedbush Securities.

Altos e baixos

Isso não quer dizer que grandes empresas de tecnologia não devam se preocupar. A publicidade, força vital do Google e do Facebook, tende a sofrer durante as crises econômicas. As ações da Apple, Microsoft, Amazon, Facebook e Alphabet, empresa do Google, somaram mais de US$ 1 trilhão em perdas de valor de mercado em relação a um mês atrás, quando as bolsas americanas operavam em níveis recordes. Microsoft e Apple cortaram suas previsões financeiras de curto prazo por causa da desaceleração dos gastos dos consumidores.

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Fora do círculo das maiores empresas, a luta é mais árdua. Ferramentas de comunicação, como o serviço de videoconferência Zoom, agora são essenciais, mas empresas de mobilidade Uber e Lyft e sites de aluguel de imóveis como Airbnb estão vendo os clientes desaparecerem.

Abertura daexposição retrospectiva " Das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céus", deSandra Cinto,no Itau Cultural Foto: Denise Andrade

A indústria de tecnologia global – calculada em US$ 3,9 trilhões – sofrerá este ano, mas ainda não se sabe quanto. Em dezembro, a empresa de pesquisa IDC previa um crescimento mundial de 5% nas vendas de hardware, software e serviços em 2020. Mês passado, quando ficou claro que o coronavírus interromperia as cadeias de suprimento e reduziria as vendas na China, a IDC disse que as receitas anuais podem avançar apenas 1%. Esse crescimento agora parece decididamente otimista, disse Frank Gens, analista-chefe da IDC.

Mas, quando a economia melhorar, a indústria de tecnologia poderá se beneficiar de mudanças nos hábitos do consumidor. E, apesar de mais de 18 meses de críticas de parlamentares, reguladores e concorrentes antes da chegada da pandemia aos Estados Unidos, as maiores empresas devem terminar o ano mais fortes do que nunca.

Mudança de hábitos

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Embora a Amazon tenha mudado os hábitos de compra de itens como livros, vinha sendo mais difícil convencer os clientes a comprar mantimentos pelo site da empresa. Agora, à medida que mais pessoas são forçadas a ficar em casa, uma das últimas vantagens do varejo físico pode estar sob pressão.

Michael Crowe, de Charlotte, Carolina do Norte, encomendou mantimentos da Amazon pela primeira vez há alguns dias, porque não queria arriscar uma ida ao supermercado, disse ele. “Pode ser que eu continue fazendo isso no longo prazo, quando tudo isso acabar”, disse Crowe, de 36 anos, que trabalha em uma rede varejista de artigos domésticos.

À medida que mais clientes experimentam diferentes serviços da Amazon, eles podem criar mudanças permanentes nos hábitos de compra, disse Guru Hariharan, ex-funcionário da Amazon e fundador da CommerceIQ, empresa cujo software de automação é usado por grandes marcas como Kellogg's e Kimberly-Clark.

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Em uma postagem na semana passada, Dave Clark, vice-presidente de operações mundiais da Amazon, disse que estava abrindo novas vagas em seus centros de distribuição e redes de entrega nos Estados Unidos, porque “nossas necessidades de mão-de-obra chegaram a níveis inéditos para esta época do ano”.

Uma razão para o aumento da demanda da Amazon é que os clientes estão comprando uma maior variedade de mercadorias. De 20 de fevereiro a 15 de março, as vendas de remédios sem receita para resfriado aumentaram nove vezes na Amazon dos Estados Unidos em relação ao ano anterior. Os pedidos de alimentos para cães aumentaram treze vezes e as vendas de toalhas de papel e papel higiênico triplicaram, de acordo com a CommerceIQ.

As ordens de isolamento obviamente estão aumentando o tráfego de sites de streaming de vídeo, aplicativos e plataformas de rede social. Os downloads do aplicativo da Netflix aumentaram 66% na Itália, de acordo com dados da Sensor Tower, uma empresa de dados de aplicativos. Na Espanha, os downloads cresceram 35%. Nos Estados Unidos, onde a Netflix já era popular, houve um aumento de 9%. A Netflix se recusou a comentar se estava observando um aumento nos assinantes.

A mudança para o trabalho em casa também demonstrou os méritos da computação em nuvem para lidar com demandas inesperadas. As empresas que gerenciam suas próprias infraestruturas de internet sabem que é caro e complicado fazer ajustes rápidos nas necessidades de computação. A computação em nuvem facilita isso.

Amazon, Microsoft e Google, as três principais plataformas de computação em nuvem, estão nadando em dinheiro e oferecendo grandes descontos para alugar infraestrutura para redes corporativas, bem como softwares usados pelos funcionários.

Até a Apple, empresa com centenas de lojas fechadas em todo o mundo (exceto agora na China), parece cada vez mais capaz de emergir da pandemia em boa forma. Terry Guo, chefe da Foxconn, empresa que monta a maioria dos iPhones do mundo para a Apple, disse a repórteres em 12 de março que as fábricas chinesas da Foxconn estavam retomando a produção antes do previsto e voltando ao normal – bem antes das expectativas iniciais, que apontavam para o final de março.

A Apple tentou diminuir sua forte dependência de vendas de dispositivos e aumentar sua receita em serviços, os quais incluem vendas de aplicativos e assinaturas de seus serviços de música e TV. “Após a crise financeira de 2008, a Apple emergiu ainda mais forte”, disse Ives, da Wedbush. “Não há razão para que ela e outros gigantes não venham a fazer o mesmo agora”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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